Obter o Espírito Por Meio de Aconselhamento Mútuo

R. VAL JOHNSON

Revistas da Igreja

Cinco princípios usados pelas Autoridades Gerais para convidar o Espírito em seus conselhos.

Como membros da Igreja, podemos sentir a orientação do Espírito Santo em nossa vida pessoal. Se estivermos enfrentando um desafio familiar, um problema no trabalho ou uma designação da Igreja, podemos receber orientação divina se pedirmos, buscarmos e batermos (ver Mateus 7:7; D&C 88:63). Os manuais e as revistas da Igreja estão repletos de histórias de membros e líderes que buscaram revelação e as receberam.

Essas histórias geralmente refletem um esforço solitário envolvendo o estudo individual, a oração, em certas ocasiões o jejum, o arrependimento sincero, se necessário, e seguir em frente com fé. Mas podemos obter orientação de nosso Pai Celestial de outra forma, e que pode ser muito poderosa. Esse é o processo de revelação de aconselhamento com outras pessoas.

Os princípios que orientam uma pessoa para receber revelação pessoal são parecidos com os que influenciam os membros de um grupo, mas outros princípios estão envolvidos também. Por aconselharem-se regularmente para tomar decisões, as experiências dos membros da Primeira Presidência e do Quórum dos Doze Apóstolos ilustram estes princípios em ação.

Princípio 1: Orar, Ponderar e Aconselhar-se Mutuamente

Antes de ser chamado para o Quórum dos Doze, o Élder Robert D. Hales aprendeu com o Presidente Boyd K. Packer o primeiro passo vital na obtenção do Espírito ao procurar inspiração com os outros: oração, meditação e aconselhamento mútuo. Ele relatou:

“Fomos encarregados de reorganizar uma estaca e começamos por ajoelhar-nos juntos em oração. Depois de entrevistarmos os líderes do sacerdócio e orarmos, o Élder Packer sugeriu que caminhássemos em volta da capela. Ao caminharmos, ele demonstrou um princípio vital na busca de revelação pessoal — o princípio ensinado pelo Senhor a Oliver Cowdery: 'Mas eis que (...) deves estudá-lo bem em tua mente' (D&C 9:8). Ponderamos sobre nossa designação, conversamos e ficamos atentos à voz do Espírito. Ao voltarmos, oramos e continuamos a estudar. Então estávamos preparados para receber revelação".1

Princípio 2: Buscar a Unidade

O princípio seguinte é buscar a unidade ao tomar a decisão. Essa unidade é difícil conseguir sem o Espírito. O Élder Richard G. Scott do Quórum dos Doze Apóstolos, relatou uma experiência comum nas reuniões da Primeira Presidência e do Quórum dos Doze Apóstolos. Ele disse que uma proposta foi levada a uma reunião e o Presidente do Quórum na época, o Presidente Howard W. Hunter (1907–1995), disse: “Isso é tão importante [que] eu gostaria de ouvir os sentimentos de todos os membros dos Doze independentemente sobre esta proposta”.

O Élder Scott disse: "Seguimos pelo círculo compartilhando nossos sentimentos: 'Acho que está tudo bem; parece bom para mim'. [Então] ocorreu a um dos membros dos Doze e (...) ele disse: 'Não sei por quê; não posso escolher algo do qual não me sinta bem a respeito, nada que eu mudaria, mas acho que estamos prestes a cometer um desastre'”. O Élder Scott disse que este comentário parou o debate. Ele se lembrou de que, quando o mesmo item surgiu na agenda da reunião seguinte, o Presidente Hunter olhou em volta da sala. Ninguém disse nada. Então o Presidente Hunter sabiamente disse: “Vejo que ainda há certo desconforto a respeito desse assunto; não tomaremos uma decisão hoje”.

O Élder Scott continuou: “Essa é a maneira que creio que o Senhor quer que nos relacionemos uns com os outros – não forçar as coisas, não ter tanta pressa (...), mas devemos deixar o Espírito guiar, e isso às vezes leva tempo. Mas é melhor tomar a decisão certa sob a influência do Espírito do que tomar uma decisão que atenda um calendário ou para tirar um item da agenda”.2

Princípio 3: Prosseguir com Fé

O comentário do Élder Scott sobre não forçar a tomada de uma decisão é renovado pelo Élder Hales, que contou uma história que ilustra a necessidade de paciência e fé ao buscar a ajuda do céu:

“Como Autoridade Geral, fui encarregado de ajudar a reorganizar uma presidência de estaca sob a direção do Élder Ezra Taft Benson. Depois de orarmos, fazermos entrevistas, estudarmos e orarmos novamente, o Élder Benson perguntou se eu sabia quem seria o novo Presidente. Respondi que ainda não recebera a inspiração. Ele olhou para mim por muito tempo e respondeu que ele também não a recebera. No entanto, fomos inspirados a pedir que três portadores dignos do sacerdócio discursassem na sessão de sábado à noite da conferência. Momentos depois de o terceiro orador começar, o Espírito indicou-me que ele deveria ser o novo presidente da estaca. Olhei para o Presidente Benson e vi lágrimas nos seus olhos. Ambos tínhamos recebido revelação — mas somente por termos continuado a buscar a vontade do Pai Celestial ao seguirmos avante com fé".3

Princípio 4: Deixar o Espírito Ajudá-lo a Ver Outros Pontos de Vista

O aconselhamento mútuo nem sempre é uma experiência suave. As pessoas com opiniões fortes podem impedir um grupo de chegar a um consenso. Em tais situações, a humildade e a disposição de ser guiado pelo Espírito podem ajudar o grupo a resolver o impasse.

O Élder Scott deu este conselho: "A humildade é receptiva ao ensino do Espírito Santo. (...) Quando somos humildes nesse sentido, podemos ser inspirados pelo Senhor. (...)

[Uma] maneira pela qual o Espírito pode guiá-lo é levar ambos a reconhecerem o ponto de vista um do outro. E quando há diferenças, analisar e entender o ponto de vista do outro para que cheguem a um acordo (...) sem serem motivados por desejos ou ponto de vista pessoais. (...)

Outro [modo pelo qual o Espírito pode guiar-nos é na] capacidade de mudar. Não nascemos necessariamente com as decisões certas em nossa mente. Às vezes, precisamos ajustar (...) nossa perspectiva. (...) Os Doze fazem isso o tempo todo, conversando a respeito de uma questão. Podemos começar em pontos opostos, mas conversamos sobre o problema e o Espírito orienta o que [cada pessoa] diz. (...) E logo começamos a chegar a um acordo, não um acordo forçado, mas um acordo honesto e uma direção a tomar. (...)

Isso geralmente requer algum abrandamento de seus próprios sentimentos, alguma acomodação de seus próprios desejos e sentimentos, para que o grupo tome uma decisão unânime que seja satisfatória, mas pode absolutamente não atender aos desejos de todas as pessoas. Você faz algumas concessões, não necessariamente uma grande, mas alguma concessão — nunca uma concessão de princípios, mas talvez na abordagem, para que possam tomar uma decisão que funcione”.4

Princípio 5: Olhar para a Pessoa que Preside para Confirmar a Inspiração

O Élder M. Russell Ballard contou uma experiência que o Presidente David O. McKay (1873–1970) relatou sobre uma reunião do conselho em que os Apóstolos estavam pensando em uma questão de grande importância. O Presidente McKay e os outros Apóstolos “sentiram fortemente sobre certo tipo de ação que deveria ser tomada e eles estavam preparados para compartilhar seus sentimentos em uma reunião com a Primeira Presidência. Para sua surpresa, o Presidente Joseph F. Smith (Presidente da Igreja na época) não pediu a opinião deles a respeito do assunto, como era seu costume. Em vez disso, 'ele se levantou e disse: "Isto é o que o Senhor quer"'.5

Embora a decisão fosse diferente da que o Presidente dos Doze, Francis M. Lyman, tinha decidido, o Presidente Lyman "foi o primeiro a levantar e dizer: 'Irmãos, sugiro que isso se torne a opinião e o julgamento deste conselho'”.

Uma segunda pessoa o apoiou e então foi aprovado por unanimidade. "Seis meses não se passaram antes que a sabedoria daquele líder fosse demonstrada", escreveu o Presidente McKay.6

"Quando um líder do conselho chega a uma decisão", o Élder Ballard concluiu: "os membros do conselho devem apoiá-lo de todo o coração".7

Há vários anos, o Presidente Stephen L. Richards (1879 – 1959), Primeiro Conselheiro do Presidente David O. McKay, testificou que "no espírito sob o qual trabalhamos, homens [e mulheres] podem se unir com opiniões aparentemente divergentes e formações muito diferentes, e sob a influência desse Espírito, ao se aconselharem mutuamente, podem chegar a um acordo. (...)

Garanto-lhes sem hesitar que, caso se reúnam em conselho, conforme o esperado, Deus lhes mostrará a solução dos problemas que enfrentam”.8

O que funciona para as Autoridades Gerais pode funcionar para as alas, ramos e as famílias — de fato, para qualquer grupo de pessoas, grande ou pequeno — que estão buscando a inspiração de nosso Pai Celestial.

Uma Ordem Perfeita em Todas as Coisas

O Profeta Joseph Smith ensinou a um grupo de líderes do sacerdócio um princípio que todos que fazem parte de um conselho podem muito bem adotar:

“Cada [pessoa no conselho] deve falar em sua vez e em seu lugar e em seu momento e ocasião, para que haja perfeita ordem em todas as coisas; e (...) todo homem (…) deve certificar-se de poder lançar uma luz sobre o assunto em vez de espalhar as trevas, (...) e isso pode ser feito se os homens se aplicarem dedicadamente a estudar a mente e a vontade do Senhor, cujo Espírito sempre Se manifesta e mostra a verdade para a compreensão de todos os que possuem o Espírito".

Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith, 2007, p. 300.

Notas

  1. Robert D. Hales, “Revelação Pessoal: Os Ensinamentos e Exemplos dos Profetas”, A Liahona, novembro de 2007, pp. 86–87.
  2. Richard G. Scott, em “A Conversation on ‘Act under the Direction of the Spirit" (entrevista, Série Aperfeiçoamento da Liderança para os funcionários da Igreja, Salt Lake City, 23 de fevereiro de 2011).
  3. Robert D. Hales, “Revelação Pessoal: Os Ensinamentos e Exemplos dos Profetas”, pp. 87 – 88.
  4. Richard G. Scott, em “A Conversation on ‘Act under the Direction of the Spirit”.
  5. M. Russell Ballard, “Strength in Counsel”, Ensign, novembro de 1993, p. 78.
  6. David O. McKay, Gospel Ideals, p. 264, em M. Russell Ballard, “Strength in Counsel”, p. 78.
  7. M. Russell Ballard, “Strength in Counsel”, Ensign, novembro de 1993, p. 78.
  8. Stephen L. Richards, Conference Report, outubro de 1953, p. 86.
 
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